segunda-feira, 2 de agosto de 2010

... * Alice * ...

O Blog Sonhos de Florecita inicia hoje a série "Contos tão normais" ... trazendo em alguns personagens coisas simples, e ao mesmo tempo significativas, sempre com algum pensamento reflexivo! espero que gostem! beijos =*


Ela era mais uma garota - comum -... sabe? daquelas que não tem nada especial.
Era a mais velha de três filhas. Tinha um quarto só pra ela. Celular comum. Não gostava de orkut, nem de msn, não tomava leite, não comia massas. Até então uma garota qualquer, como disse antes, comum.
Pra não ser tão amarga, pode ser rotulada como : sem graça.
Cabelos médios, castanhos assim como os olhos, baixa estatura, pele branca até demais.
Mania irritante de não ter gosto musical definido, o que tocar na rádio, para Alice tava de bom tamanho.
Férias, era época de limpar a casa, dar banho nos cachorros, e sentar na área, comer a fruta da estação, também não tinha preferência. Praia ou campo não era uma questão que fazia parte dos seus dias.
17 anos, a linha tênue entre o fui e serei. E pra não dizer que não tinha algo de diferente... Alice namorava com Adriano. Filho único, fã de AC/DC e Led Zeppelin, alto, moreno, cabelos compridos, taxista. Oposto total. Mas ainda sim, estavam juntos num razoavel tempo de 2 anos e 1 mês.


Se conheceram em uma festa de 15 anos. Casualmente na festa de 15 anos da própria Alice.
Festa sem graça, com cores sem graça, música sem graça, de tão morna parecia mais uma reunião do grupo de jovens nerds. Ganhou festa por insistênsia dos pais... por pouco nem compareceu à própria festa. Sair de casa pra ela, era cansativo demais. Na festa apenas familiares, e um pessoal da escola... pouca gente, ela não gostava de se relacionar com muitas pessoas. Adriano foi com o irmão, colega de Alice. Depois de tomar algumas cervejas, perguntou ao irmão, o por que da menina estar sozinha o tempo todo. o irmão respondeu o que todos pensavam : Alice não gosta de pessoas, quanto menos... melhor.


Adriano já estava com aquela sensação de garganta apertada, consciência confusa, e traços de embriaguez.
Foi caminhando à passos lentos até aquela garota de vestido rosa desbotado, sentada perto da mesa de som, olhando os outros se divertir.
- Oi?
- ... oi ...
- Estava te observando. Você deveria estar se divertindo, não?
- ... não...
- Por quê? É sua festa de 15 anos.
- ... e?? ...
- Bom, você é quem sabe.


Virou as costas, deixou cair um cartãozinho. Adriano Lima de Andrade (54) 9999-5566, taxista.
Quem? Adriano? taxista? o que ele está fazendo aqui? E que diferença isso faz? ela não gostava de ninguém que estava ali.
Manhã posterior. O telefone toca sem parar. A cabeça dói... resquícios de álcool, e um gosto de indiferença na boca. O telefone continua tocando.
- Alô
- ...
- Alô!!!
- .. oi ...
(aquele oi lhe era familiar )
- quem fala?
- Alice.. nós nos conhecemos ontem a noite.Pausa. Quem seria Alice? Seria algum tiro no escuro, e Adriano sequer lembrava.
- Eu sei, você não deve lembrar, ninguém lembra.


- Calma, eu vou lembrar...
Claroooooo! é a menina do vestido rosa, a dona da festa. Lembro. Aquela que não gosta de ninguém.


- Não é bem assim... Mas, esquece (...) Você é taxista, não precisa saber da minha vida, só me prestar serviço. Estarei pronta em 20 minutos, e te espero no endereço combinado.


Desde aquele dia, a menina que não gostava de ninguém, passou a gostar de um alguém. E esse alguém se chamava Adriano.
Eles não iam em festa pois Alice não gostava, não iam no cinema pois Alice não se interessava, não iam passear por que Alice cansava, não viajavam pois Alice enjoava, não iam jantar fora pois Alice não gostava de outra comida que não fosse a da sua mãe.
Mas ainda sim se divertiam juntos. Sentavam na área de casa, e ela ficava ouvindo as histórias dele. Ela ouvia o violão dele, um pouco desafinado, mas ainda sim ele se esforçava. Assistiam TV, mas só no domingo, e só se tivesse pipoca com manteiga.
Relação sem graça, assim como tudo que envolvia... Alice.


Adriano não ia mais em shows, não visitava os amigos, não comprava discos, nem sabia o que estava acontecendo, como se estivesse fora do mundo que o cercava, um mundo paralelo, um mundo de Alice.
Todos julgavam, condenavam... o cara que melhor cantava nos ensaios de garagem, o melhor motorista da cidade, o melhor parceiro para as noitadas de cerveja, o melhor amigo para aconselhar... o melhor tudo, tinha abandonado a vida, por uma menia, simples e sem graça. Ele sabia, que aquele corpo branco e sem curvas, tinha um calor sem igual. Aqueles lábios em forma de coração era macios como nenhum outro. Em 22 anos, não havia conhecido alguém tão alheia ao mundo que a cerca. E era exatamente aquilo que tanto lhe chamava atenção.
Simples pra quem olha de fora, mas tão complexo pra quem vive!
 Ela não se importavam como ele se vestia, nem quanto dinheiro tinha... nem ao menos se preocupava se o seu carro tinha sistema de som... Ela só se preocupava em estar com ele, cada vez mais perto. Interesse não fazia parte do seu vocabulário.
Pode ser que ele desejasse que ela fosse mais vaidosa... ou que gostasse de andar de mãos dadas na chuva. Mas ela não gostava de festa eletrônica, não usa legging branca, e não queria subir nos capôs dos carros no posto de gasolina, como 90% das garotas da sua idade.
Ela seria uma boa dona de casa, ela seria uma boa mãe - pensava Adriano.
As festas acabavam no outro dia, a bebedeira passa, os amigos casam, tem filhos, tomam seu rumo, as bandas acabam... o que fica são as nossas atitudes.
As vezes as decisões não são o que realmente queremos, mas o que precisamos fazer para que tudo fique em paz.
Adriano não trocou Alice por ninguém! Alice mudou... por que ele a quis da forma como a conheceu, e não tentou mudá-la! esperou que o tempo fosse moldando ela. E aconteceu. o tempo cura, Deus sabe bem o que faz! Alice começou a comer carne pra ir nos churrascos de domingo, começou a frequentar o cinema, e até passeava pelas ruas da cidade... se permitiu voar quando achou que era a hora certa.


Não importa o quanto as pessoas digam que você fez uma escolha errada. Não é uma escolha errada. É a sua escolha! Cada um sabe o que se passa na sua alma, no seu coração... e pouco importa o que é razão! Os que se guiam pela razão são muito problemáticos.


Ser NORMAL... cansa! Ser COMUM... é chato! Mas o pior de tudo, é escolher o rumo da sua vida a partir das ideias dos outros.


Seja Adriano! Não se importe com a opinião alheia! Não ouça quem não vive a relação diretamente! Troque as coisas grandiosas, por pequenos detalhes! Cuide mais da sua Alice do que da sua reputação!

by Gabrielle Moraes

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